Tráfico e exploração de crianças em crescendo (opinião)

(Opinião publicada orginalmente no Diário da Feira, em 21 de janeiro de 2021. Disponível aqui: https://diariodafeira.com/?p=51761)

Apesar da reduzida atenção dada pelos média nacional à temática do tráfico de crianças, esta continua a ser uma realidade à escala global, que infelizmente está em crescendo, e da qual Portugal parece não estar livre.

Como se pode compreender, os valores reais do tráfico humano são difíceis de se obter com precisão e estão constantemente em atualização, à medida que surgem novos dados.  No entanto, basta-nos os números conhecidos para termos uma ideia deste flagelo verdadeiramente assustador. Em menos de uma década este número quase duplicou.

Os dados conhecidos indicam que em 2012 cerca de 20,9 milhões de pessoas foram vítimas de tráfico, ou seja, quase duas vezes a população de Portugal. Desde então, verifica-se um aumento dos números, apontando os mais recentes para cerca de 40,3 milhões de vítimas à escala global.

Mas quem são estes 40,3 milhões de humanos? A esta questão a Organização Internacional do Trabalho (agência da ONU que reúne empregadores, trabalhadores e governos de 187 estados-membros) responde com o seu último relatório e que passarei a apresentar de forma resumida neste artigo.

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O breve “soviete” português – 18 de janeiro de 1934

“Marinha Grande é um nome escrito a ouro na história do movimento operário português.
Melhor se pode dizer: escrito com lágrimas e sangue”
Álvaro Cunhal

NE25ABRIL: A Revolta da Marinha Grande... 80 anos depois
Autoridades na Marinha Grande para reprimir a revolta de 1934

No início de 1934, entra em vigor uma Lei que vem pôr fim aos sindicatos livres, que seriam substituídos pelos sindicatos corporativos, típicos do salazarismo, onde o patronato dominava. Face a isto, os sindicatos resistentes convocam uma greve geral para 18 de janeiro uma greve geral, cujo objetivo maior seria derrubar o ditador Salazar.

Com exceções na Marinha Grande, no Barreiro e em Silves, a greve não conseguiu suscitar uma adesão significativa e saíram por isso, goradas as expetativas dos envolvidos. A repressão foi brutal, mesmo apesar da moderação relatada dos grevistas e sindicalistas. Pouco depois, viriam a ser condenados sumariamente, sendo que viriam mesmo a ser deportados para o campo de concentração do Tarrafal, na Ilha de Santiago em Cabo Verde (conhecido também como o “Campo da Morte Lenta” e que estes operários que iriam estrear).

Todavia, esta derrota dos sindicatos livres e dos trabalhadores viria a ganhar uma dimensão heroica e mítica. Não se pode ignorar que à data as ditaduras fascistas se estavam a consolidar na Europa e que em Portugal a Constituição do Estado Novo tinha sido aprovada em referendo onde quem quisesse votar contra teria de escrever “não” no boletim de voto e onde os votos brancos e a abstenção foram tidos como sendo a favor.

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As constantes descargas poluentes nos rios (Santa Maria da Feira)

(Artigo de opinião originalmente publicado no Jornal N em janeiro 2021)

Ilustração de Rachel Gleaves

O verão passado ficou marcado, no nosso concelho, por diversos atentados ambientais. Houve para todos os “gostos”. Registaram-se fogos, problemas com a recolha de lixo e higienização de estruturas de apoio e ainda as já tradicionais descargas poluentes, das quais se destaca as ocorridas nos rios Uíma e Cáster. Este inverno não tem sido melhor.

Relativamente às descargas poluentes para os cursos de água, se por um lado é verdade que estas têm diferentes origens e não se pode descartar as responsabilidades dos prevaricadores, por outro lado, também não se pode descartar as responsabilidades das entidades responsáveis que deveriam fiscalizar e fazer cumprir a legislação em vigor, mas que pouco têm feito.

Desta feita, o ano começou como acabou, com descargas poluentes no rio Cáster, no centro da cidade de Santa Maria da Feira, exatamente no mesmo local onde no verão já se tinham registado outras descargas. Ou seja, a este nível, pode-se concluir que nada foi feito.

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