La educación para la sostenibilidad persigue, en definitiva, lograr una profunda revolución de las mentalidades (Vilches, Gil, Toscano e Macías, 2014)
Nos discursos políticos e educacionais, assiste-se hoje a uma popularização do termo Desenvolvimento Sustentável (DS), embora pareça não haver acordo nos significados que lhe são atribuídos (Costa, 2013). O DS surgiu num contexto externo à educação, todavia “a identificação da importância da educação para a promoção de uma forma de desenvolvimento mais sustentável é quase imediata” (P. Sá 2008, p.42). A associação do DS com a educação também não reúne consenso, pelo que julga-se pertinente analisar a emergência do conceito e clarificar o termo Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS).
A consciencialização do impacte ambiental fruto do crescimento económico terá surgido pela primeira vez no Relatório do Clube de Roma (1972), severamente criticado por defender que a sustentabilidade da vida na Terra seria o crescimento zero da economia e da população. Realizado com base nos resultados de um programa computacional que previa que a capacidade de manutenção do planeta seria excedida nos 100 anos seguintes, o relatório tinha como grande limitação o facto de não considerar a possibilidade das inovações tecnológicas poderem minimizar os impactes do crescimento económico e/ou populacional.
O conceito de DS surgiu anos mais tarde na Declaração de Cocoyoto (1974), começando a circular na esfera pública apenas em 1980 com a publicação do World Conservation Strategy (1980). Baker et al. (1997) e P. Sá (2008) corroboram a ideia de que a principal limitação do conceito apresentado nesse documento era a focalização na sustentabilidade ambiental, excluindo do primeiro plano os aspetos sociais e económicos. Volvidos sete anos, surgiu uma nova perspetiva veiculada pelo Relatório de Brundtland (1987) que defendia a compatibilidade entre a proteção ambiental e o crescimento económico, assim como a reflexão acerca da operacionalização de formas de desenvolvimento ambientalmente sustentáveis (WCED, 1987; Reid, 1995; Baker, 2006 mencionado em P. Sá, 2008). Neste documento, DS é definido como “desenvolvimento que consegue dar respostas às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das futuras de responderem às suas” (WCED, 1987,p.43) e, quase trinta anos depois, esta definição ainda prevalece.
O Relatório de Brundtland (1987) salienta a importância de respeitar os limites do planeta através de uma visão de globalidade intrinsecamente ligada à democracia e à equidade, ainda que não haja assentimento quanto à definição de DS que apresenta. Esta tem sido apontada, por autores como Baker (2006), Baker, Kousis, Richardson e Young (1998), Daly e Cobb (1990), O’Riordan (1981), Reid (1995), Sauvé (1999), como sendo demasiado vaga e ambígua, não permitindo “perceber o que este conceito implica na prática, quais os compromissos e custos que requer, para além da possibilidade de uso abusivo que poderá permitir” (P. Sá, 2008, p.44).
Esta imprecisão deve-se à combinação de “desenvolvimento” e “sustentabilidade”, termos por si só vagos e com significados diversos que variam consoante o contexto, pois desenvolvimento é comummente interpretado como “crescimento” devido à ligação tradicionalmente estabelecida com a economia (P. Sá, 2008; Correia, 2013). Atualmente, a organização das diferentes perspetivas de DS pode ser pensada em dois grupos, os quais assentam na relação do Ser Humano com a Natureza: a Perspetiva Ecocêntrica e a Perspetiva Antropocêntrica (Baker, 2006; Baker et al., 1997; Caride e Meira, 2004). A primeira tem como fundamento “a valorização da natureza, considerando que a sobrevivência do ser humano depende dela” (Costa, 2013, p. 68). Isto é, as características diferenciadoras dos seres humanos em relação aos restantes seres vivos não são relevantes, sendo estes apenas mais uma espécie envolvida no ecossistema global e, por essa razão, os efeitos das suas ações repercutem-se neles próprios (Lima e Guerra, 2004). Quanto à segunda perspetiva (antropocêntrica), sobrevaloriza o Ser Humano e o desenvolvimento económico, considerando a necessidade de proteger os recursos naturais numa perspetiva de manutenção dos níveis de consumo e, daí que, a riqueza da Natureza é apenas valorizada pelo que pode proporcionar ao Ser Humano (P. Sá, 2008).
Estas duas conceções da relação Ser Humano/Natureza posicionam vários modelos de DS relativamente uns aos outros, mediante a terminologia DS Fraco, DS Forte, DS Ideal e DS Integral (Baker, 2006; Daly e Cobb, 1990; Ekins, 2000; Luffiego, García e Rabadán, Vergara, 2000; Reid, 1995), destacando-se este último por tentar conciliar diferentes dimensões de sustentabilidade (ambiental[1], social[2] e económica[3]).
Seguindo a linha de P. Sá, (2008), mais importante do que uma definição única e consensualizada é a necessidade de alcançar, de facto, o desenvolvimento sustentável, pois o termo “Desenvolvimento” “deveria ser sempre sinónimo de melhoria; qualidade (o que é diferente de quantidade, de posse material de algo); justiça social; equidade e respeito pelos Direitos Humanos e, tudo isto, deveria, sempre, ser “Sustentável” ou conservável, no tempo e no espaço” (p. 54).
[1] De acordo com Ekins (2000), a dimensão ambiental considera o crescimento económico incompatível com a manutenção da natureza, pois os recursos naturais são finitos, havendo a necessidade de alertar para o impacte da ação humana sobre os recursos naturais e vice-versa.
[2] Segundo Ekins (2000), a dimensão social define-se como a capacidade da sociedade manter as condições necessárias à reprodução, à construção e à manutenção da coesão social, sendo “norteada por uma cultura de paz e por valores de solidariedade e entreajuda” (Correia, 2013, p.70).
[3] A dimensão económica é a capacidade de manutenção de uma condição de não declínio dos lucros, projetada indefinidamente no futuro (Archibugi e Nijkamp, 1998; Pezzey, 1992 citado por Ekins, 2000), valorizando “a compreensão das desigualdades existentes tendo em vista a equidade” (Correia, 2013, p.70).
Para citar:
Moreira, F., (2015). Abordagem da temática das plantas num contexto EDS orientado para o Pensamento Crítico no 1.ºCEB pp. 22-24. Universidade de Aveiro: Aveiro
As referências bibliográficas presentes neste excerto podem ser consultadas no documento completo.
(Artigo originalmente publicado em 2015)