O flautista ameaça a liberdade

Já todos se aperceberam que o Facebook não é uma rede social, mas sim uma rede global de recolha de dados que são utilizados para os mais diversos fins, inclusivamente como ameaça à Democracia.

Hoje, o Facebook tem a capacidade de saber mais sobre os seus utilizadores do que eles próprios. Estando esta teia ainda em expansão com aquisição de novas “redes sociais” e o investimento noutras áreas que permitirá o acesso a muito mais dados e a uma população mais alargada.

Este conhecimento adquirido e acumulado ao longo de anos é comumente vendido a terceiros que o têm usado a seu bel-prazer para as mais diferentes atividades, como publicidade direcionada ou para influenciar resultados eleitorais como no Brexit ou nas últimas eleições presidenciais norte-americanas, entre outras.

Tudo isto é do conhecimento público, havendo até vários documentários e filmes que retratam todo o processo seguido nestes cenários. Aliás, mesmo em Portugal esta plataforma tem sido utilizada por agentes políticos para influenciar o pensamento. Veja-se a quantidade de perfis falsos que apoiam determinados partidos e até o facto de alguns políticos portugueses, mais ou menos conhecidos, terem centenas, alguns milhares, de apoiantes cuja origem está em Marrocos e Índia (perfis criados por robots).

Todavia, apesar de o algoritmo do Facebook ser muito criticado há vários anos, principalmente por limitar a interação, a informação que surge nos feeds e traçar perfis de utilizador, sabe-se hoje que este mesmo algoritmo é utilizado para a promoção de ideologias de direita. Este facto foi tornado público nos Estados Unidos da América, com provas, por funcionários da empresa. Entretanto alguns destes funcionários foram despedidos no início deste mês (ver a notícia aqui: https://sanfrancisco.cbslocal.com/2020/08/07/reports-facebook-fires-employee-who-shared-proof-of-right-wing-favoritism/).

Por cá, este “processo” tem passado despercebido da esmagadora maioria dos media nacionais, mas não tem passado incólume para os utilizadores da rede que têm visto algumas das suas publicações censuradas pela empresa ou pelo facto de as suas publicações não terem alcance igual consoante o conteúdo das mesmas.

Perante estes acontecimentos, não é possível encobrir mais a ideologia por detrás daquilo que à partida seria uma rede social de cariz global e globalizante, democrática e igualitária. A utopia deu lugar à realidade. Realidade ainda mais assustadora quando se percebe que este gigante está nas mãos apenas de uma só pessoa, à qual até as comunicações de Estado têm dificuldade em escapar.

Deixar-nos-emos levar pelo flautista?


*Cartoon de Wissam Asaad (Síria). Para aceder aos seus trabalhos -> cartoonji.com

Filipe T. Moreira