Todos os anos são publicados os rankings das escolas nacionais. Todavia, devemos ter cautela aquando da análise destes resultados e evitar uma observação pela rama dos mesmos, que transparece em muitos meios de comunicação social e que se caracteriza pelo conflito entre ensino público versus ensino privado.
Considerando que o objetivo maior da Educação é humanizar, não podemos fazer uma análise do nosso sistema educativo apenas pelos rankings escolares. Tampouco podemos comprar o ensino público com o ensino privado, até porque:
– os fatores socioeconómicos são determinantes no sucesso escolar do aluno. Naturalmente, que os alunos que frequentam o privado são, tendencionalmente, de famílias com melhores condições;
– algumas escolas privadas fazem pré-seleção dos alunos. Há ainda aquelas em que se os alunos não se enquadrarem no perfil da escola (nomeadamente no comportamento), são gentilmente convidados a sair;
– o ensino privado, numa tentativa de captar clientes, vê-se obrigado a apresentar resultados.
Estes são apenas alguns fatores que evidenciam que mal seria se os colégios privados não ocupassem os lugares de topo no ranking nacional. No entanto, no ranking publicado pela Renascença, onde foram considerados apenas as escolas/colégios com mais de 100 exames, verificou-se que das quatro instituições com piores resultados (em exames nacionais), uma é precisamente do ensino privado. Outro dado interessante é que a dispersão de resultados é muito mais acentuada no privado do que no público. Porém, não podemos ignorar que dentro da esfera do ensino privado há também realidades distintas e que tudo deve entrar na equação quando queremos efetivamente analisar a qualidade do ensino em Portugal.
Posto isto, não estou a afirmar que os rankings não devam merecer a nossa atenção, até porque estes podem dar-nos alguns indicadores importantes como a evolução das escolas (isto se mantivermos os critérios ao longo dos anos). Por exemplo, conseguiu-se aferir que quase duplicou o número de escolas públicas com média negativa a Português e a Matemática. Importa agora perceber as razões desta variação. Por outro lado, face ao contexto das escolas, foi possível aferir que um quarto das escolas públicas apresentam melhores resultados do que o esperado.
Com os rankings podemos ainda perceber se uma escola, cujo seu público se tenha mantido idêntico, tem ou não evoluído e daí aferir os fatores que estão a montante desse resultado e assim tentar adaptar a estratégia para escolas com perfis idênticos.
Resumidamente, o que pretendi com este artigo é demonstrar que os rankings das escolas é algo mais complexo do que aquilo que transparece anualmente e que, na sua generalidade, se tende a resumir ao público versus o privado. Não podemos usar os rankings para alimentar este “conflito”, até porque estes são obtidos essencialmente através dos resultados dos exames nacionais, não sendo considerado todo o “bolo”. Por exemplo, estas provas não avaliam o Pensamento Crítico, a Criatividade ou mesmo a Autonomia dos alunos, fatores cada vez mais tidos como essenciais para o seu sucesso. O que talvez seja parte da explicação para os alunos que vêm do ensino público, tendencionalmente, apresentarem melhores resultados académicos no Ensino Superior do que os que vêm do ensino privado.
Filipe T. Moreira
Professor do Ensino Superior Politécnico e Investigador no DigiMedia – Digital Media and Interaction Research Centre da Universidade de Aveiro