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Publicado no jornal João Semana de 15 de junho
Coluna no jornal João Semana
A convite do histórico jornal ovarense “João Semana”, iniciei uma coluna dedicada à Educação. Partilho aqui o primeiro texto, publicado a 1 de julho, que foi dedicado à falta global de professores.
Falta de Professores à escala Global
A UNESCO (em português Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) tem vido a alertar ara a falta de professores à escala global. Naturalmente que esta falta se faz sentir mais numas regiões do que noutras. Todavia, num dos artigos mais recentes, a esta Organização das Nações Unidas afirma que em 2030 haverá a falta de 69 milhões de professores, somente para se alcançar o ensino básico universal. Ou seja, nestes valores não está contabilizada a fala de professores para outros níveis de ensino.
As regiões mais afetadas pela falta de professores são, respetivamente, a África Subsaariana e o Sul da Ásia. Salienta-se que nos países com baixos rendimentos, o primeiro obstáculo é a pesada carga de trabalho. De acordo com a UNESCO, cada professor dos primeiros anos de escolaridade nestes países tem uma média de 52 alunos por turma no ensino primário, enquanto a média mundial é de 26. O rácio é particularmente elevado na África Subsariana com 56 alunos por professor e no Sul da Ásia com 38. Na Europa e na América do Norte, o rácio é de apenas 15 alunos por professor, em média, sendo que em Portugal esta média é superior.
A par do número de alunos, outras causas para a falta de atratividade da profissão, nos países mais pobres, são a falta de condições de habitação para os professores deslocados, falta de condições materiais nas escolas, turmas com vários níveis e os baixos salários quando comparados com profissões que exigem formação idêntica.
Diferentes estudos parecem corroborar da ideia de que a falta de professores em países desenvolvidos tem, ainda que em escalas diferentes, as mesmas causas das elencadas para os países mais pobres. Portugal não é exceção. Por exemplo, atualmente estamos a formar cerca de 1500 professores por ano, mas deveríamos estar a formar cerca de 3500 para evitar uma crise da falta de docentes que se prevê vir a sentir com maior intensidade em 2030, estimando-se para esse ano a falta de 50 mil professores (dados de um estudo apoiado pelo Ministério da Educação).
A nível europeu vários países têm tentado medidas para minimizar o problema, mas parece haver uma falta de estratégia conjunta. Algumas medidas têm passado por aumentar o número de alunos por turma, integrar profissionais licenciados sem profissionalização (facto que tem revelado já resultados negativos, nomeadamente em Inglaterra e França). Ou seja, em última análise, a redução da qualidade do ensino.
Considerado a Educação como uma estratégia nacional (ou regional no caso europeu) e da centralidade dos professores em todos os sistemas de ensino, torna-se urgente um plano que vise a melhoria da atratividade da profissão (temos exemplos europeus onde isso acontece e os resultados estão à vista), que deverá ser acompanhada de outras medidas como a redução da burocracia e o reforço da qualidade do ensino a nível geral. Caso contrário, corremos o risco de ter profissionais com maiores níveis de formação, mas substancialmente menos preparados para fazer face às vicissitudes da vida.
Voltaremos, certamente, a este tema em rúbricas próximas.
Filipe T. Moreira
Professor do Ensino Superior Politécnico e Investigador no DigiMedia – Digital Media and Interaction Research Centre da Universidade de Aveiro